Fraternidade e tráfico humano.
O sinônimo mais usual de fraternidade é irmandade. A palavra
nos fala do sentimento de pertença, irmãos pertencem à mesma família, a mesma
irmandade, ao mesmo grupo ideológico, a grande família humana. Pertencer
significa fazer parte, assumir parte das mesmas responsabilidades e deveres. Tráfico,
é no sentido jurídico positivo, o comercio em si, no sentido negativo é o
transporte ilícito de substancias, objetos (armas, por exemplo), plantas,
animais e pessoas. Essa palavra fala de mobilidade. Bem, irmandade e mobilidade
dizem respeito à liberdade de pertencer e de transportar ou transportar-se. Liberdade
nos fala de ato voluntário, desejo, liberdade de escolha, respeito a si e a
própria vida e ao próximo seus bem e sua vida.
O oposto de liberdade é a licenciosidade. A licença no
sentido jurídico, nos fala da exorbitação do desejo de alguém sobre o direito
do próximo, é por esse motivo que quando lemos a expressão “Tráfico Humano”
imediatamente nos lembramos de
escravidão, que é a ação de um opressor sobre um oprimido, ação contra a
vontade do oprimido. Todavia nos dias de hoje, e também no passado, duas são as
maiores escravidões, a escravidão do pecado e a escravidão do vício, com ou sem
pecado. Neste sentido muito particular e preciso nós temos a componente da
vontade, assim as pessoas livremente se apegam a escravidão do pecado e ou do
vicio. Então a observação dos fatos nos diz que também a escravidão gera um
estado de dependência voluntaria, um sentido de pertença, e uma licença
entendida como liberdade, ou seja, existe tanto uma fraternidade para o Mal
como para o Bem, e existe uma mobilidade voluntaria para o Mal como para o Bem.
Se você não entendeu dou-te esse simples exemplo: podemos traficar pessoas para
livrá-las do cativeiro imerecido ( O resgate dos santos, por exemplo) ou de um
regime de exceção, como também podemos traficar pessoas para a prostituição,
adoção ilegal, experiência cientifica ou trabalho escravo. Existem outras
possibilidades bastante sutis. Por exemplo, numa sociedade onde não há
mobilidade social, isto é, onde as pessoas que nascem em uma classe social, não
podem galgar outra condição social, existe claramente um sistema de inibição da
mobilidade o que caracteriza escravidão.
O Papa Francisco fala que Jesus Cristo, veio para nos
libertar, na verdade para nos redimir. Assim quem liberta deve ser livre, o que
nos leva a perguntar: Que tipo de liberdade tinha Jesus Cristo? A resposta é
clara nos Evangelhos, a liberdade de Cristo consiste em fazer a vontade do Pai,
e realizá-la ate a morte. Claro está que a Liberdade do Senhor é um serviço a
Deus Pai, em favor dos homens. Penso que aqui já podemos concluir: ou servimos
a Deus fazendo o Bem, ou servimos ao Mal. Ou vivemos a fraternidade e
sentimento de pertença fazendo o Bem, ou somos fraternais na pratica do mal.
Observamos as escravidões mais explicitas e próxima aos
nossos tempos e notou-se que raramente
houve ações individuais de libertação, na verdade, ou foram ações coletivas, ou
foram resultados do afrouxamento dos opressores por razões políticas e
econômicas.
Assim, aqueles que se julgam oprimidos precisam desejar não
o serem, e desejar coletivamente; e àqueles que não se julgam, mas são
opressores, só nos resta dizer: Na opressão não haverá justiça, e sem justiça
não viveremos coletivamente o Reino de Deus.
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