sábado, 11 de julho de 2009

As controvérsias sobre as imagens IV

Gravura mostra um tipico ícone bizantino.


O que vimos ate aqui, e muito claramente nesse texto do médico evangélico do texto anterior, é que é necessário recorrer às descrições antigas para fazermos uma imagem exata da Crucificação de Jesus Cristo. Certamente a pesquisa histórica através dos tempos recorreu a todo tipo de pista, desenhos, pinturas, entalhes, ícones, mosaicos, esculturas, baixo e alto relevos, relatos escritos, etc. É o homem deixando a sua marca na história e pré-história gravada como pegadas marcadas no tempo de sua presença no palco da vida.
O nome dos inimigos das imagens deriva-se da palavra ícone ( iconoclasmo). Essa luta entre defensores das imagens ocorre muito antes de surgirem o que se entende por Igrejas Evangélicas de hoje. Desde grande antiguidade encontramos o uso de imagens nos ambientes cristãos. Um ícone é uma imagem símbolo de uma passagem da história divina ou sagrada, mais particularmente usadas nas igrejas orientais. (dizemos os ícones são mais encontrados nas igrejas orientais, e as imagens mais encontradas nas igrejas latinas). Simboliza a natureza transcendente e serve de ponto de referência para a meditação. Participa da identidade da natureza humana do modelo e nos permite entrar em contacto com sua realidade superformal. Nos ícones que marcam e acompanham toda a história do cristianismo russo desde as suas origens ate os nosso dias costuma-se encontrar uma serie de delicados elementos simbólicos de natureza didática, que como uma linguagem ( língua estrangeira qualquer) precisa ser aprendida. Os ícones constituem um tipo muito particular de arte sacra, o que os tornam muito preciosos para o entendimento da realidade antiga desses cristãos. Feito com todo o cuidado eles têm sem exagero, para quem sabe interpretá-lo, o valor de um livro pictografado, tão possível de leitura quanto um hieróglifo egípcio. O Concilio Niceno II declara que: “devemos expor as veneradas imagens sagradas, manufaturadas com tintas, mosaicos ou com outras matérias idôneas, nas igrejas consagradas a Deus, bem como imagens dos veneráveis anjos descritos na Bíblia e de todos os homens santos e piedosos”. A doutrina deste Concílio sustentou a arte sacra na Igreja. Em particular as igrejas gregas e eslavas apoiando-se nas obras de grandes teólogos como São Nicéforo de Constantinopla e São Teodoro Studita, grandes apologistas (defensores) do culto à imagem e do culto à Bíblia, que consideravam a veneração das imagens parte integrante da Liturgia. Liturgia vem de litos, pedra, a liturgia é a parte rígida da doutrina cristã para a edificação de todos à semelhança da celebração da Palavra.
No final do século VII (sétimo) os adversários das imagens que viam nelas um retorno ao paganismo, ou, ao menos, uma concessão ao paganismo, estribavam-se nos exageros, abusos e nas superstições que muitas vezes acompanhavam o culto as imagens. O Governo Imperial aliou-se a eles (Cesaropapismo iconoclasta) e a luta contra as imagens passou a ser uma questão política. Cem anos houve uma firme tensão entre o Oriente e Ocidente e a luta foi aberta pelo Imperador-Soldado Leão III (717-41) chamado "O Isaúrico", ou seja, o Sírio) que pela sua bravura na luta em defesa de Constantinopla que resistia aos árabes que condenavam as imagens ao sabor das escrituras de Maomé. Em 726 por edito, ele dispôs que se afastassem ou cobrissem as imagens religiosas. Ora, Leão III queria a reorganização do Império que agora abrangia terras distantes e ele queria agradar e conceder favores aos paulicianos, aos maometanos e aos hebreus, todos hostis as imagens. Como o imperador queria ser respeitado como Soberano e Sumo Sacerdote, queria submeter ao seu poder a Igreja Cristã sobremodo subjugando os monges. Nesse ponto a defesa das imagens do cristianismo passa a ser ponto de honra da liberdade da Igreja contra o despotismo imperial. Alguns bispos seguiram o Imperador, principalmente os da Ásia Menor como Constantino de Nacólia. As maiorias dizem os historiadores eclesiásticos eram a favor da veneração as imagens, do seu papel didático, e da facilitação ao culto do lar. Os monges as defendiam. João Damasceno, o monge do convento de S. Sabás, próximo de Jerusalém foi o grande defensor das imagens. Lembrem o Concilio de Nicéia II ocorreu em 778 conseguindo congregar as igrejas de Roma e Constantinopla. A questão ressurgiu em 818 terminando em 843. Com o surgimento do protestantismo no final da Idade e Media e inicio da Moderna a questão das imagens é retomada. A Igreja Latina continua defendendo o culto às imagens também "esculturais" o que a difere da Igreja Oriental que defende a veneração aos ícones.
A Iconolatria, adoração quase mágica as imagens é outra coisa, outro fenômeno e outro assunto. A Iconografia é, como já vimos, à arte de representação da história Bíblica por representação de imagens religiosas. A decoração figurada das igrejas, através de afrescos, mosaicos, estatuas, mosaicos, vitrais, contribui para um ambiente festivo, didático e respeitoso. O aspecto dos templos prolonga os sinais litúrgicos, eleva os homens artisticamente acentuando o aspecto celeste e escatológico dos atos culturais, e são registros da história e da arte humana em diversas épocas. Como a leitura dos livros materiais permite a audição da Palavra viva do Senhor, assim também a exposição de imagens figurativas permite àqueles que as contemplam ter acesso aos mistérios da salvação mediante a vista. Mediante a visão. Afinal não foi só Tomé que quis ver para crer, embora censurado pelo Senhor pela sua pouca Fé.
No próximo texto, faremos se possivel um apanhado do que significam os textos de êxodo, e o texto do primeiro Mandamento de Moisés (ao tempo de Moisés não se podia saber que Cristo, O Deus Encarnado, iniciaria um Novo Tempo, uma nova doutrina, o Cristianismo, destinado em primeiro lugar às ovelhas desgarradas de Israel, e em seguida rejeitada por eles, destinada então ao Universalismo Cristão). Com respeito ao uso cristão das imagens, do culto a imagem dos santos, exatamente como mantemos imagens de nossos filhos e esposa, para melhor nos lembrar deles e por eles, apoiados na misericórdia de Deus, venerá-los, orar por eles, lembrá-los, nos unirmos a eles em pensamento, como frutos de nosso amor, sofrimento e vida. O pensamento produz imagens. Imagens de Deus. Somos na verdade imagens de Deus segundo Gênese. Embora se diga: o homem que vê a Deus (Pai), não continuará vivo.
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