segunda-feira, 14 de setembro de 2009

23 de Outubro de 787, Fim do Concilio de Nicéia II.

23 de Outubro de 787.

Nesse ano estaremos festejando 1222 anos do Concilio de Nicéia II (quatro de 9 a 23 de 19 de 787) que traçou para o mundo cristão as normas de culto e a licitude de devoção as sagradas imagens durante a árdua controvérsia Iconoclasta. Como já dissemos Eikon do grego quer dizer imagem, e kláo, também do grego quer dizet quebrar. Assim a forma moderna da palavra iconoclasmo foi o movimento de quebra ou apenas de combate ao uso das imagens sacras. Visto que tal data - 23 de outubro- é importante, exporemos nas páginas seguintes desse longo texto o seguinte: A) O Histórico das controvérsias; B) as definições do Concilio de Nicéia; C) O significado do culto das imagens.

Traços da história dos iconoclastas entre cristãos:

A Igreja dos três primeiros séculos era sóbria em relação às imagens por dois motivos principais: O antigo testamento proibia a confecção de imagens (Ex 20, 4 e seguintes e DT 4, 15. Os povos pagãos adoravam Ídolos (imagens ou objetos divinizados), todavia essa sobriedade não quer dizer que não houvesse uso de imagens nos ambientes cristãos, assim, por exemplo, os cemitérios de outrora, dos primeiros anos do cristianismo apresentavam afrescos, geralmente inspirados pelos textos bíblicos de Noé (a unidade e universalidade da humanidade salva do dilúvio); os três jovens cantando na fornalha ardente; Daniel na cova dos Leões; os pães e os peixes restantes da multiplicação efetuada por Jesus; o peixe que simbolizava o Cristo (Messias). A Enciclopédia Conhecer trás uma referencia a um afresco de Nossa Senhora existente nas catacumbas de Roma.

No século IV o paganismo foi declinando fortemente, de modo que um dos fatores de reserva ao uso de imagens dissipou-se: essas foram sendo confeccionadas em numero crescente, tanto para excitar a piedade como para instruir o povo iletrado. Principalmente a Igreja oriental, mais próxima de Jerusalém, entre os monges, que estimavam as imagens (ícones) não para adorá-las, mas cultuar as pessoas assim descritas e citadas nos textos bíblicos representadas em ícones como Jesus; a Virgem Maria, os Santos, e outros textos bíblicos.

No século VII, porém o islamismo (cuja era começa em 622) renovou o preceito do Antigo Testamento, escrituras judaico (não do Novo, que vem ser definido como nova aliança ou aliança definitiva) que proibiam o culto às imagens. Este fato, o avanço do Islam., e os abusos cometidos pelos cristãos suscitaram no seio da Igreja a onda de iconoclasmo. Os imperadores bizantinos (como já vimos em outros textos) que julgavam ter a obrigação de intervir nos assuntos internos do cristianismo tomaram partido em favor dos iconoclastas, de modo que o culto das imagens foi proibido por leis do Império. Os monges e muitos fiéis do mundo Romano reagiram a essa leis, o que resultou em violentas perseguições a partir de 726, quando o imperador Leão III o Isaurico decretou o afastamento das imagens sacras. A Intenção do monarca não era apenas teológica mas sobretudo política, queria ser imperador e sacerdote, programando submeter ao seu poder a Igreja, incluindo os monges que eram os mais tenazes defensores da liberdade eclesiástica. Assim, a liberdade de culto as imagens tornou-se luta contra o cesaropapismo ou como querem outros contra despotismo imperial e da submissão da Igreja ao Estado Imperial naquilo que dizia respeito à doutrina Cristã.

São João Damasceno. (748) reagiu assim: Decidir sobre assuntos da Igreja toca aos Sínodos e não aos imperadores. Não foi a estes que Deus entregou as Chaves, o poder de ligar e desligar, mas aos apóstolos e seus sucessores (nos séculos)... não aceito que os decretos do imperador rejam a Igreja; esta tem suas leis nas tradições dos Padres, escritas e não escritas”. ( De haeresibus PG 94 II 16, 1304).

Essa perseguição aos cultores das imagens durou ate 843, passando por fazes mais agudas e outras mais brandas, cabendo a Imperadora Teodora que conseguiu por termo a qustão iconoclasta dando apoio total as decisões do Concilio de Nicéia II (787)

Os argumentos dos iconoclastas:

Os adversários das imagens não apelavam apenas para o Antigo Testamento (escrituras Judias), mas elaboravam um arrazoado que abria mão de premissas centrais da teologia do Cristianismo, pois se prendia ao mistério da Encarnação do Verbo. Para entendê-lo será preciso recordar as etapas pela qual passou o estudo das definições da Criptologia.

Premissas Criptológicas:

Nos séculos I-III os bispos procuravam definir da Sagrada Escritura o relacionamento de Jesus Cristo segunda pessoa com o Deus Único, que se revela no Antigo Testamento. O Concilio de Nicéia I em 325 definiu que Jesus Cristo é “Deus de Deus, luz de luz, gerado não feito, consubstancial ao Pai, Ele por quem tudo foi feito. No fim do século IV o Concilio de Constantinopla em 381, definia igualmente a divindade do Espírito Santo:” Senhor e fonte da Vida, que com o Pai e o Filho é Adorado e Glorificado”.

Estava assim definido o dogma da Santíssima Trindade: Há um só Deus, cuja natureza é tão rica que se afirma em três Pessoas_ Pai Filho e Espírito Santo- que não retalham a natureza a Única natureza divina. Sendo que por natureza entende-se aquilo que faz algüém ou alguma coisa ser aquilo que esse alguém ou coisa é; assim a racionalidade para o homem. A natureza humana, por exemplo, é uma só, mas as pessoas são bilhões. Donde se vê que há uma diferença entre natureza e pessoa.

Mas sendo Jesus verdadeiro Deus como poderia ser ao mesmo tempo verdadeiro Homem?

As definições só vieram depois de que correntes cristãs começaram a propor soluções que fugiam da tradição dos Santos Padres e Apóstolos. O Nestorianismo do Patriarca Nestório, de Constantinopla afirmava que em Jesus havia duas pessoas e duas naturezas, a divina e a humana, ou seja, dois eus, unidos entre si por mero afeto. Essa doutrina muito popular que corrompe a noção de encarnação do Verbo foi rejeitada pelo Concilio de Éfeso em 431. Este então proclamou “Maria Mãe de Deus” (Theotokus), para afirmar definitivamente que Maria não gerou apenas um homem, mas gerou uma pessoa e essa pessoa Era Deus Filho, que nela assim uniu a natureza humana. Por conseguinte Maria é mãe de Deus na justa medida que Deus se quis fazer homem.

Outra tese rejeitada foi a de Eutiques de Alexandria, chamada Monofisismo, que interpretando erroneamente a quilo que a definição de Éfeso propuzera. Sua proposição teológica foi condenada pelo concilio de Calcedônia em 451, pois também deturpava a verdadeira noção da Encarnação do Verbo. Em conseqüência o Concilio de Calcedônia definia que em Jesus havia uma só pessoa e duas naturezas, a Divina, Eterna, e a humana, assumida no seio da Virgem Maria.

Os monofisistas insistiram que em Cristo havia uma só vontade (a Divina) o que redundava em afirmar uma só natureza (a Divina). Essa nova afirmação ficou conhecida como monotelista, que foi, todavia rejeitada pelo Concilio de Constantinopla III em 681. Há, pois, em Jesus a vontade Divina, eterna, e a vontade humana, inerente a humanidade assumida. Pessoa aqui é o que faz a natureza subsistir em si como tal. Pessoa é, pois a natureza humana mais a substancia ou é a natureza subsistente em determinado sujeito. Estas noções se aplicam a Deus, contanto que se enfatize que subsistência em três Pessoas Divinas não retalha a natureza divina, como a subsistência em muitas pessoas retalha a natureza humana.

Estava assim definida e expressa a fé Universal (católica) nos Mistérios da Santíssima Trindade e na Encarnação do Verbo, isso separava definitivamente a Universalidade Cristã dos princípios sectários do judaísmo, pois dava ao Senhor Jesus autoridade sobre a nova e definitiva Aliança, ou como querem outros ao Novo Testamento. Era sobre essa aparente secundaria controvérsia, se que se discutia o cerne da doutrina Cristã.

Ora é justamente sobre esse fundo teológico que, se discutia a aparentemente sem importância, definição sobre se poderíamos, fazer uma imagem da pessoa de Jesus Cristo, como Deus Verdadeiro e Homem Verdadeiro.

Que diziam então os iconoclastas?

O iconoclasmo foi sistematicamente elaborado numa assembléia paralela de 338 bispos, que se auto designava erroneamente Concilio Ecumênico (já vimos à questão em outro Texto). Pois fora convocado pelo imperador cesaropapista Constantino V Copronimo (741-775) para a localidade de Hieria. Essa Assembléia acéfala baseava-se em argumentos como vimos cristológicos.

Como vimos os Concilio de Efeso e Calcedônia definiram que Jesus Cristo é verdadeiro Deus e Verdadeiro Homem, tendo duas naturezas e uma só Pessoa a Divina. Ora, diziam os iconoclastas de ontem e de hoje, quem tenta representar pictoricamente Jesus, procura compor uma imagem de Deus e do Homem; assim comete um duplo sacrilégio, o primeiro é tentar representar a pessoa divina, ou divindade que não pode ser representada; o segundo é o de misturar a natureza divina e a humana ou a divindade e a humanidade, erro que Eutiques, cometeu e que por isso foi condenado em Calcedônia. Em Genesis Deus Diz: “Façamos o homem nossa Imagem e Semelhança”, ora o homem é imagem e semelhança de Deus, e foi moldado do Barro pelo próprio Deus, e esse "façamos", esse plural, se refere claramente as três Pessoas Divinas, Pai Filho e Espírito Santo.

Desciam a mais algumas acusações: Ora, diziam, se as imagens representam apenas a natureza humana de Jesus, que foi visível e palpável aos homens, esse era o modo de pensar de Nestório condenado em Efeso; quem julga que pode representar só a humanidade de Jesus, atribui a ela uma existência própria. Assim consideravam ilícitas as imagens de Jesus Cristo e por conseqüência as de Maria e dos Santos que recairiam em idolatria.

Foi para refutar tal argumentação que o Concilio de Nicéia II se reuniu sobre a Imperatriz Irene, regente de seu filho Constantino IV. Nicéia foi um verdadeiro Concilio Ecumênico (terra habitada pelos cristãos), representativo de toda a Igreja Universal e aprovado pelo Papa Adriano I.

O Texto Conciliar:

Depois de referendar os Concílios Anteriores de Nicéia em 325 e Constantinopla em 381, professa a fé dos Apóstolos, e passa a dizer:

Em poucas palavras, eis a nossa profissão de fé: conservamos sem mudança, todas as tradições eclesiásticas, escritas e não escritas, que nos foram transmitidas. Uma dessas é a confecção de imagens, que se concilia com a pregação do Evangelho, pois afirma a real, e não apenas aparente Encarnação do Verbo de Deus; além do que é útil a nós, pois não há correspondência entre o sinal e aquilo que é assinalado. Por isto, caminhando pela via rágia, e seguindo em tudo o inspirado ensinamento dos Santos Padres e a Tradição da Igreja Católica, reconhecemos que o Espírito Santo nela habita. Definimos com toda a precisão e diligência que, como as representações da Cruz, assim também as veneráveis e santas imagens em pintura, em mosaico e em qualquer outra matéria adequada, devem ser expostas nas santas Igrejas de Deus (sobre os santos utensílios, sobre os paramentos, sobre as paredes e os quadros, nas casas e nas estradas). O mesmo se faça com as imagens de Deus Nosso Senhor e Salvador, como as da Santa Mãe de Deus, com as dos Santos Anjos e as de todos os santos e justos. Quanto mais os fieis contemplarem essas representações, mais serão levados a recordar-se dos modelos originais, e se voltar para eles e lhes testemunhar uma veneração respeitosa, sem que isso seja adoração, pois essa só convém segundo nossa fé, a Deus. Trata-se antes, de um culto semelhante ao que se presta à Cruz, aos Evangelhos e aos outros objetos sagrados, honrando-os com a oferta de incenso e de lumes, como era usual entre os antigos; na verdade a honra prestada as imagens passa aos seus protótipos; quem venera a imagem venera a pessoa assim reproduzida.

Assim reforçamos os ensinamentos dos nossos Santos Padres, ou seja, a Tradição da Igreja Católica, que pregou o Evangelho de uma extremidade à outra da terra., assim somos seguidores de Paulo, do divino Colégio dos Apóstolos e da santidade dos antepassados, ligados como estamos à tradição que recebemos ( 2Ts 2,15) Por conseguinte quem ousar rejeitar algo do que foi entregue a Igreja, sejam os Evangelhos, sejam imagens da Cruz, sejam imagens pintadas, sejam as santas relíquias dos mártires, ou quem ousar subverter algumas da legitimas tradições da Igreja Católica, ou quem desviar para uso profano os vasos sagrados ou os santos Mosteiros, ordenamos que, se forem bispos e ou clérigos sejam depostos; se forem monges ou leigos sejam excomungados ( Denzinger- Shonmetzer, Enchindion numero 600-603).

O sentido do culto das imagens.

OBS: Continua em Texto II (23 De Outubro de 787).