segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Continuação do texto anterior.

23 de Outubro de 787, texto II, continuação do texto abaixo.

O Valor cristológico das Imagens.

A declaração do Concilio de Nicéia II mostra que o uso das imagens esta intimamente ligada à teologia cristológica. Com efeito, assim diz; “Uma das tradições é a confecção de imagens, que se concilia com a pregação dos Evangelhos, pois afirma a real, e não apenas aparente Encarnação do Verbo de Deus”.

Já os iconoclastas queriam deduzir do mistério da Encarnação o não uso das imagens. Assim o Concilio definiu que a imagem não é uma representação da natureza divina, nem da natureza humana, mas representa a pessoa Divina Encarnada: exprime os traços do Filho de Deus feito homem e tornado visível aos sentidos e, por conseguinte, representável pela arte. Os ícones são imagens de pessoas, cada pessoa possui sua natureza própria. Na Santíssima Trindade existe distinção de pessoas, entre Pai, Filho e Espírito Santo, mas existe identidade da natureza divina. Na Santíssima Trindade o Filho difere do Pai pela sua pessoa; nas imagens, Ele difere do ícone pela natureza, ao passo que há identidade de Pessoa. Donde se segue que negar a legitimidade das imagens de Cristo é negar o próprio Mistério da Encarnação e afirmar a legitimidade das imagens de Cristo é professar a fé no mistério de Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem (uma só pessoa em duas naturezas); é afirmar a fé na encarnação do Filho de Deus (o que não fazem os que negam sua imagem).

Por isso a definição do Concilio de Nicéia II em favor das imagens é um compêndio da verdade católica. Assim defendia Teodoro de Studion defensor das imagens e da liturgia da Igreja, que padeceu duras perseguições e cruéis flagelações.

Assim também é oportuno citar textos de São João Damasceno que explicam bem o pensamento da ortodoxia.

“Estaríamos realmente no erro se fizéssemos uma imagem do Deus invisível. Pois é impossível pintar o que é incorpóreo e invisível, o que não tem traço nem linhas sensíveis... Mas depois que Deus, em sua bondade inefável, se encarnou e foi visto em carne na terra... depois que ele viveu com os homens, tendo assumido a natureza, a densidade, a figura, a cor da carne nós não nos enganamos em fazer sua imagem (II 5, 88)”

Represento Deus, o invisível... Não na medida em que é invisível, mas na medida em que se tornou visível em nosso favor; participando da carne e do sangue (I 6, 35)

“Como fazer a imagem do invisível? Enquanto Deus é invisível não faço imagens dele, Mas desde que vês o incorpóreo feito homem, fazei a imagem da forma humana, quando o invisível se torna visível na carne, pinta à semelhança do Invisível”

“Quando se trata de imagens, é preciso considerar a intenção daqueles que as confeccionam. Se a intenção é justa e reta e se as confeccionam para a gloria de Deus e de seus Santos, por desejo de virtudes, de fuga dos vícios, e para a salvação das almas, é preciso recebê-las como imagens... livros dos analfabetos: é preciso venerá-las, beijá-las, saudá-las com os olhos, os lábios, o coração, trata-se da representação de Deus encarnado, ou de sua Mãe, ou de seus Santos, companheiros dos sofrimentos e da gloria de Cristo.”

Assim São João Damasceno se exprime sobre o culto das imagens.

O Valor Sacramental da Imagem.

O Texto de Nicéia II afirma: Quanto mais os fiéis contemplarem essas representações, mais serão levados a recordar-se dos modelos originais e a se voltar para eles... E acrescenta: A honra prestada às imagens passa aos seus protótipos. Isto significa que a representação de Jesus Cristo nas imagens é um instrumento de comunicação e de comunhão entre os fiéis que contemplam devocionalmente, e Aquele que é contemplado. Os cristãos orientais diriam que as imagens são o sinal de autêntica presença, ou que, mediante os ícones, o Senhor atua sobre os fieis infundindo-lhes nesses a sua graça. Com outras palavras: as imagens têm o valor de um sacramental. Sacramental em teologia é todo objeto no qual a Igreja associa sua oração, pedindo a todos quanto o utilizam sejam santificados na medida da fé e do amor com que os usarem. Assim os crucifixos, as medalhas, os terços...

Tal concepção é especialmente cara aos cristãos.

A modalidade de culto das imagens.

O culto é o reconhecimento e a proclamação da dignidade existente em alguém. Dirige-se primeiramente a Deus, depois, a todas as pessoas e realidades às quais Ele comunica algo de seus valores. O documento conciliar distingue dois tipos de culto: Aqueles que contemplam as imagens são levados a... Testemunhar-lhes uma veneração respeitosa, sem que isso seja adoração, pois essa só convém segundo a nossa fé a Deus. Donde se vê que o culto prestado ás imagens não é de adoração, mas de respeito, veneração e obséquio.

Conclusão:

A sentença conciliar de Nicéia II em 23 de Outubro de 787, teologicamente põe fim as querelas, todavia o Concilio foi contestado por muitos. Os monges e fiéis que veneravam as imagens continuaram a ser perseguidos. Sob o reinado da imperatriz Teodora houve um aquietamento dos ânimos iconoclastas, até que no século XVI, os protestantes levantaram mais uma vez a questão do uso das imagens, ao que o Concilio de Trento em 1533 condenou, aos protestantes e reafirmou o culto das imagens, tanto como valor para a piedade como para a pedagogia dos fiéis.