A Igreja e a Ciência.
Eu, como muitos de minha geração, fui, como eles foram, bombardeado com as severas criticas feitas à Igreja como sendo um obstáculo histórico à ciência. Alguns, entre meus colegas capitularam e se fizeram inimigos levianos desta instituição bi-milenar. Outros na mesma linha de inconformismo e de calunias se fizeram maçons, protestantes, espíritas, ateus, materialistas históricos etc. e tal. Tal atitude de deserção tem gerado em mim curiosidade e alguma pesquisa.
Estudei Filosofia e Psicologia
E pude verificar, mesmo numa Universidade Católica como a PUC, ou numa escola de Teologia como o Studium onde também fui aluno, as acusações de que a Igreja cria “tabu” naquilo que diga respeito direto à sexualidade e aos costumes. A Igreja tornava-se assim, para mim e para meus colegas, a inimiga de uma juventude libertária e licenciosa.
Concluo hoje, que tudo era absolutamente falso. A moral cristã preservada na sua integridade pela Igreja é imbatível e nada foi proposto fora dela que a supere ou aperfeiçoe. Hoje, bem amadurecido, tenho estudado o assunto e verifico apenas um emaranhado de calunias levianas.
Quero demonstrar aqui, se o leitor permitir, que se não fossem alguns membros da hierarquia da Igreja, embora não seja esta a sua missão especifica muito poucos saberiam da sexualidade cientifica. Sem a Igreja e o Sacramento do Casamento, fundamento da família, teríamos nos distanciado ainda mais da moralidade sadia e da prudência nas relações em sociedade. Viveríamos um caos.
Sem considerar aqui, todo o movimento histórico do cristianismo na valorização da mulher, tirando, por assim dizer, a mulher de uma escravidão e de um estado de obnubilação social que a caracterizava na sociedade de dois mil anos atrás, principalmente na sociedade clássica, venho em linhas gerais, comentar o papel biológico e sexual e alguns dos feitos científicos de membros da Igreja (padres) em relação a estes fatos, sem me prolongar, nas conseqüências de sua influência, que o leitor inteligente saberá deduzir.
Todos já ouviram falar de Gabriel Fallope, o descobridor da Trompa de Fallope. Esse homem que trouxe avanços fantásticos para a Química e a Anatomia, principalmente para a compreensão do aparelho genital feminino e também para os fundamentos da bioquímica era um Cônego que viveu entre 1523 e 1562 e um dos primeiros cientistas que viram o óvulo feminino apesar desta descoberta, a descoberta do óvulo, ser atribuída a Renier de Graaf em 1671. Fallope também foi o professor de Fabrício D’Acquapendente o descobridor das válvulas das veias e de outros segredos da circulação sanguínea (1537-1619).
Até 1700 ninguém suspeitava do papel do esperma na reprodução. Foi com as pesquisas do Abade italiano Lazare Spallazani, que viveu entre 1729 e 1799, que a humanidade fica conhecendo o papel do esperma na reprodução. Por ele o mundo cientifico fica conhecendo a fisiologia do estômago, detalhes da fisiologia do sangue e de quebra alguns avanços na Física e Matemática.
E a Genética. Esta ciência que ainda engatinha, quem a conhecia ate surgir a Lei de Mendel? Pois foi Johan Mendel, um monge agostiniano austríaco, o descobridor e sistematiza dor (pela análise matemática) das leis genéticas em 1865. Vocês já pensaram no que isto significa, significou e significará em termos de ciência? O cientista paranaense, geneticista de renome internacional, Newton Freire-Maia, recentemente divulgou sua conversão ao catolicismo, possivelmente como resultado de suas pesquisas genéticas. Donde concluo que a sincera busca da verdade aproxima da doutrina católica, e não o inverso.
Lavoisier é considerado o pai da Química moderna. Não era padre, mas, em seus trabalhos há inúmeras referências ao Abade Caille, astrônomo e matemático, seu contemporâneo e que foi seu professor. Protegido pela Igreja que era a sua Mecenas, Lavoiser foi guilhotinado pela Revolução Francesa. A Revolução Francesa, na época a maior inimiga ideológica da Igreja e sua maior caluniadora, mataram Lavoiser porque era católico e fidalgo. Conta-se que “Thermidor” teria dito: “A Revolução não precisa de sábios”. E a Igreja “a retrograda”, tão acusada do atraso da humanidade, os protegia.
Só como curiosidade, não os apresentando como membros da hierarquia clerical católica, mas porque tiveram vida de pratica religiosa incomum, isto é, chamavam a atenção pela prática religiosa que professavam, vou lembrar aqui de Theodor Schuann e Pasteur, ambos católicos. Portanto ambos viveram e nortearam suas vidas e suas ciências pela “Rígida Doutrina”. O primeiro que viveu na Alemanha era católico num país protestante e foi o descobridor da contração dos músculos e também descobriu a musculatura estriada e a Bainha de Mielina que envolve os axônios e que ficou conhecida como Bainha de Schuann ...um grande avanço para a neuro anatomia. Theodor Schuann e Scheleiden foram os primeiros a proporem a teoria celular. Você percebe todo o alcance desta proposição?
Pasteur, cujo grande número de descobertas não cabe citar, notabilizou-se mundialmente pela descoberta da vacina contra a Raiva, a Hidrofobia, e era como Schuann católico dos mais praticantes, isto é vivia a moral católica, que no meu sincero entender jamais cerceou a liberdade (pois é a defensora da Liberdade) dos cientistas ou da ciência.
Mas se o leitor esta sabendo entender e avaliar o papel destas descobertas no que diz respeito às ciências da vida e da sexualidade científica, também no campo das ciências sociais, no campo das relações humanas, dos costumes e da moralidade, e, afora os grandes moralistas católicos, vamos encontrar padres como iniciadores dos primeiros passos da Eteno grafia e da Etnologia, ciências chaves para a formulação da Sociologia. Como ciência a eteno grafia consiste no método científico da descrição dos costumes e a etnologia, consiste na ciência comparada dos costumes. Nestes campos científicos, encontramos como iniciadores da Etnografia os monges franciscanos Carpine e Ruysbroek e como iniciadores da Etnologia o jesuíta Francês J.F. Lafitau (1724) e o Frei Graebner e o Padre Schimidt ambos alemães. E o que seria da Sociologia sem esta base? E o que seria me responda, da Moral sem a Teologia? Não viraria a Moral, uma Ética efêmera e relativista?
No alargamento, se assim podemos dizer, dos limites da ciência do Cosmos, da Matemática e da Astronomia, nunca poderemos esquecer o cônego Nicolau Copérnico, que “demonstrando” ser o sol o centro do sistema solar amplia o conhecimento astronômico, e o Padre Lamaitre com a teoria da expansão do Universo.
Os anos passaram e hoje, quando João Paulo II, em inúmeros documentos insiste acertadamente na irresponsabilidade das uniões carnais para com a vida gerada, e insiste na ilicitude da anti -concepção, e denuncia entre os métodos dela, o uso da camisinha, não podemos deixar de lembrar, nesta oportunidade, que numa seqüência de descobertas químicas estará, na origem, o Padre norte-americano Niewland, professor de química da Notre Dame e descobridor da borracha sintética que, quero crer, jamais pensou em produzir camisinhas ou aplicar a borracha sintética na anti concepção. Dos avanços que esta descoberta propiciou, desde o fabrico de pneus com borracha sintética e a produção de instrumentos médicos, passando pela descoberta do nylon e seus derivados por Wallace, estas múltiplas invenções transformaram as relações sociais, médicas e sexuais no planeta, muitas vezes confundindo tudo num espírito de arrogância e contestação, sorte, todavia, serem balizadas na solida moral cristã que, ao sobreviver aos ataques constantes, continua sendo o norte de todos os valores desejáveis.
Wallace Requião de Mello e Silva
Psicólogo
Obras consultadas:
O homem descobre seu corpo, de André Senet.
Historia da Cultura, de Kaj Birket-Smith
Caçadores de Micróbios, de Paul Kruif
Nos domínios da ciência, de Waldemar Kaempffert
La Era de La Química, de Williams Haynes.