O Donatismo.
Eis aí outro capitulo da história da Igreja dos mais controvertidos. Aconselho os interessados a estudarem com mais profundidade do que fiz eu nestas linhas. Livros da mais alta qualidade entram em contradição sobre o tema, e induzem a muitos erros e interpretações, portanto é outro campo minado, outro período nebuloso. ( portanto não comprem o texto, estudem, em outras fontes o texto, aprimorem a questão).
Em primeiro lugar, antes de entráramos no tema, é preciso que se diga que houveram dois bispos de Cartago (norte da África) chamados Donato, um morto em 207 e outro morto em 344. O primeiro bispo da Igreja, o segundo anti-bispo, (como explicaremos) do qual vem o movimento cismático conhecido como Donatismo, uma seita cristã, do século IV, que se opunha a Sé Romana no norte da África ate sua extinção ao tempo da invasão dos vândalos na África.
Vamos por partes: Movimento cismático nascido no norte da África após a perseguição aos cristãos pelo Imperador Diocleciano (285-305). Deve seu nome a um de seus primeiros representantes o anti-bispo de Cartago chamado Donato, varias vezes condenado pelos sínodos regionais, favorecido pelo sucessor de Diocleciano, o imperador apostata Juliano, o donatismo cresceu na África sobre tudo na Numídia ate que Santo Agostinho o combatesse valentemente.
A seita afirmava que nenhum sacerdote poderia administrar os sacramentos estando em pecado mortal, na verdade, o que não se diz, é que eles contestavam a sucessão apostólica, atribuindo aos “confessores da Fé”, estatus de sacerdócio. O que isso significa? O que é um confessor da fé.
Vejam que a seita queria quebrar a antiga tradição dos apóstolos, a partir de Pedro, de impor as mãos e sagrar a hierarquia da Igreja. Assim um confessor da fé, homem reto, leigo,que mesmo perseguido deu testemunho da fé, embora não tenha perdido a vida, como os mártires da fé, teriam “méritos” que lhes daria estatus de sacerdócio e conseqüentemente de administrar sacramentos, e por outro lado, o sacerdote legitimamente sagrado pela sucessão apostólica, se estivesse em pecado, ou abraçado heresia, estaria impedido de administrar sacramentos, o que também não é verdade. No centro da questão estava o batismo, e sua validade, se o sacerdote legitimamente consagrado estivesse em estado de pecado.
Então a problemática donatista começa, e será mais bem explicada por santo Agostinho, pois teve origem com a morte do Bispo Mensurio de Cartago, em 311 (o que nos mostra que o caso nada tem como o legitimo Bispo Donato, morto em Cartago em 207). Foi eleito apostolicamente em seu lugar Ceciliano, mas este tinha se oposto a dar méritos sacerdotais aos cristãos perseguidos por Diocleciano. Estes para prejudicá-lo espalharam que os Bispos apostólicos (dentro da hierarquia) Felix de Aptunga, Fausto de Tuburbo e Novelo de Tyzica, todos africanos haviam sido traidores ao tempo de Diocleciano, pois teriam entregado os livros sagrados (bíblia) ao imperador perseguidor, e por esse fato, já não teriam autoridade para sagrar Ceciliano bispo de Cartago, e sim teriam essa autoridade, os leigos, ditos “confessores da Fé”. Coloquem atenção aos fatos. Convocaram um sínodo regional com 70 bispos da Numídia, que se reuniram em Cartago, e favoráveis aos rumores, elegeram um anti-bispo contra Ceciliano, chamado Majorino... E a esse foi que sucedeu Donato, chamado o Grande, portanto Donato era também um anti- bispo. Em Roma se reuniu um sínodo sob a 'presidência " do Papa Milciades (313) que reconheceu a autoridade episcopal de Ceciliano e condenou os donatistas e suas teses. Porém os donatistas, já bem númerosos no norte da África, não se davam por vencidos, criando mais um querela interna capaz de mais uma vez dividir a unidade do Império Romano, assim Constantino convocou o Sínodo Geral do Ocidente, que reunido em Arles na França definiu que a ordenação conferida a um bispo, é valida, seja ele um traidor ou herege (salvo se excomungado) e proibiu o habito de rebatizar, muito comum na África, a quem tivesse sido batizado por um bispo herege. Constantino mandou para o exílio os chefes do donatismo, e confiscou suas igrejas. Os donatistas, porém reagiram contra o direito do Imperador de interferir em questões religiosas, e romperam definitivamente com a Igreja. Cresciam muito, como o rigorismo e a liberdade de consagrar bispos “confessores da Fé”, de tal modo que em 336 reuniram um sínodo em Cartago com 270 donatistas.
O imperador Juliano, o apostata, servindo-se dessas divisões que enfraqueciam a Igreja, apoiou aos donatistas, pois sua intenção era a restauração do antigo culto pagão. Todavia uma sucessão de fatos curiosos que podem ser atribuídos a Divina Providência, vão acabar por destruir os donatistas: em primeiro surgem no campo doutrinal, dois geniais contendores; Optato de Milevo que na obra De schismate Donastitarum, expõem a origem e a história da cisma; e Agostinho de Hipona, que a partir de 395 foi escrevendo seu tratado teológico contra o donatismo e definindo segundo a historia apostólica o respeito e a eficácia dos consagrados na hierarquia apostólica. Em 404 os bispos católicos exigiram do imperador uma atitude protetora, que não adiantou. Em 411, sob comando de Santo Agostinho (pelo menos essa a impressão que me ficou) reuniu-se em Cartago (África) um grande Sínodo com 286 bispos ordenados pela hierarquia apostólica e 279 cismático donatistas, mas também após três dias de debates, nada adiantou, os donatistas continuavam como seus bispos “inventados” e seu ódio de morte, que como tal merecia a coerção imperial. O poder imperial aplicou leis repressivas, o que também nada adiantou. Ai veio uma intervenção triste, dolorida e cruenta, e providencial, os vândalos invadiram o norte da África destruindo tudo; e foram seqüenciados pelos muçulmanos que no século VII, pois termo definitivo aos seguidores de Donato. De positivo temos a definição de catolicidade da Igreja, que sendo universal, deve compreender e estar aberta a todos (mas não ao pecado), o senhor fará a triagem no final dos tempos. A seita excludente, nascida de si, sectária não poderia ser católica, menos apostólica, muito menos romana, edificada sobre a tradição apostólica a partir do martírio de Pedro e Paulo em Roma. A Seita dos donatistas separada de Pedro em Roma, acéfala, dividiu-se. Perdeu-se para morrer.