sexta-feira, 6 de março de 2009

Heresias IX

Heresias IX
Monergetismo e Monotelitismo (as novas faces da mesma moeda).
Os monofisistas, já estudados, insistiam em se auto afirmar, heresia ainda existente nos dias atuais. Assim o monofisismo reaparece no século VII sob nova forma. Sergio de Constantinopla, desde 619, ensinava que em Jesus havia uma só energéia (energia), ou uma só capacidade de agir. Isso era o Monergetismo; a capacidade humana estaria absorvida pela divina, e, portanto não haveria as suas expressões naturais. O imperador Heráclio (610-641) por motivos políticos, procurando a união do Império, resolveu aceitar a nova fórmula do patriarca de Constantinopla, a fim de se reconciliar com os monofisistas.
Todavia o monge palestinense Sofrônio resolveu denunciar a nova doutrina como monofisismo velado. Em reação o Patriarca Sergio mudou a formula deixando de falar de uma só faculdade operativa (energéia), para afirmar uma só vontade (a divina tendo absorvido a humana) em Jesus, o que caracterizou como Monotelitismo. Sergio então procurou o apoio do Papa Honório (625-638).
Por outro lado o imperador levava adiante a causa de Sergio de Constantinopla, e em 638, ano da morte do Papa Honório, Heráclio, o imperador promulgou uma profissão de fé dita Ectese, e aconselhado pelo Patriarca Sergio, publicou também novo edito dogmático, chamado Typos, em 648, que proibia falar em uma ou duas vontades de Cristo. O imperador tencionava, aparentemente por fim ao conflito. Ora no Ocidente o Papa Martinho I (649-653), percebendo a sutileza dos bizantinos, reuniu o Concilio de Latrão (Roma) em 649 que declarou que em cristo havia dois modos de operar e duas naturezas distintas, duas vontades naturais, e punia com a excomunhão os fautores das novas idéias. O Imperador indignado mandou prender o Papa, levá-lo para Constantinopla, onde foi humilhado como traidor, foi exilado para a Criméia, onde morreu sob maus tratos. Vários Cristãos orientais foram tratados da mesma forma por resistirem aos interesses do imperador, merecendo destaque o abade São Maximo o Confessor que foi cruelmente martirizado.
O imperador Constantino IV Pogonato (668-685), filho de Constante II, decidiu convocar um Concilio Ecumênico (Terra habitada por cristãos) e a idéia foi referendada pelo Papa Atagão. Esse foi o sexto concilio Ecumênico, o de Constantinopla III celebrado de novembro de 680 a setembro de 681. Com a presença de 170 participantes o Concilio elaborou uma profissão de fé que completava a de Calcedônia, já estudada.
“Professamos-nos, segundo a doutrina dos santos padres, duas vontades naturais e dois modos naturais de operar, indivisos e inalterados, inseparados e não misturados, duas vontades diversas, não, porém, no sentido de que uma esteja em oposição a outra, mas no sentido de que a vontade humana segue e se subordinada divina”.
Essa definição se ajusta á carta dogmática do Papa São Leão a Flaviano que diz: “ambas as naturezas operam na única pessoa de Cristo, não misturadas, não separadas e não confusas naquilo que é próprio de cada uma delas”
Isso quer dizer que em Jesus havia duas faculdades de querer, a divina e a humana, de tal modo, porém, que a vontade humana se sujeitava à divina como atesta a Oração do horto das Oliveiras, conforme Mc. 14,36. “Abba! Ó Pai! Suplicava ele, tudo te é possível; aparta de mim esse cálice! Contudo não se faça o que eu quero, senão o que tu queres”.
Diversos historiadores querem atribuir ao Papa Honório, erro em fé e moral, todavia não é isso que diz a Sé Romana, posto que a carta que aconselhava o Patriarca Sergio de Constantinopla, não era dogmática, não definia fé, e moral, e não se destinava a toda a “Urbe et Orbe”, condições de infalibilidade papal.
Por isso a condenação do Concilio de Constantinopla III ao Papa Honório, em 681, foi severo de mais, e sob o signo do Cesaropapismo. Para que você entenda, Honório é o Papa numero 70 na hierarquia, e Agatão, o numero 79, ou seja, entre Honório e o Papa São Martinho I, preso exilado e morto pelo Império, houve os seguintes papas: Severino, João IV, Teodoro I, e finalmente São Martinho (enquanto Martinho estava no exílio em Criméia Santo Eugenio o substituiu, e desse para o Papa que aceitou a convocação pelo Imperador Oriental de outro Concilio, houve os papas: Eugenio (santo); Vitaliano; Adeodato; Donus I e Santo Agatão Papa. Ou seja, muita água rolou, alguns imperadores foram empossados, e a reta Fé permaneceu apesar das pressões políticas dos bizantinos para submeter Roma. Portanto da morte de Honório em 638 a posse de Santo Agatão em 678 passaram-se 50 anos e nove papas. Ágato, ou Agatão exerceu o papado ate 681, ano em que se encerrou o Concilio de Constantinopla III e ano de sua morte. Sendo substituído por São Leão II em 682. Tanto santo Agatão como São Leão II não estiveram no Concilio de Constantinopla III, mas o primeiro enviou legados, e o segundo confirmou as decisões do Concilio, o Monotelitismo foi então condenado. (texto base M.E)
Papa Honório I nasceu em Capua. Eleito em 27 de outubro de 625, tinha sido discípulo de S. Gregório Magno. Durante o seu pontificado impulsou a evangelização de Inglaterra, procurando a integração dos monotelitas na Igreja - heresia sobre a vontade de Cristo, que ele não lutou. Isso fê-lo ser condenado por Leão II (682).
Instituiu a Festa da "Exaltação da Santa Cruz", no dia 14 de Setembro. Sanou as questões da Igreja no Oriente e o cisma de Aquiléia.
Preocupou-se com a restauração das igrejas e mandou reparar o antigo aqueduto de Trajano, que levava água à cidade de Roma. Morreu em 12 de outubro de 638.
Na internet, em latim, podemos encontrar textos de Honório, no site alemão: Kompendium der Glabensbekenntinisse und Kirchlichen.
wallacereq@gmail.com