Heresias VIII.
O Caso dos Três Capítulos.
Confesso a vocês que estou com grande dificuldade de pegar o fio da meada desse difícil texto. Mesmo os textos base que uso, não lhe dão um desfecho adequado e final. Portanto ao ler a solução que dou aqui, seja prudente, e procure estudar o caso, pois dele depende a Futura União das Igrejas Orientais (separadas) com a Igreja Romana.
Todos nós nos lembramos desde os bancos escolares, a figura de Justiniano, Imperador Romano, tido como autor do Código de Justiniano, base do Direito Romano, e comparado a Licurgo e Hamurabi como legislador. O caso que narramos aqui envolve o Papa Virgilio e o grande Imperador e legislador.
Justiniano (527-565) tencionava dar ao Império um período de fausto (fartura) o que lhe denunciava grande senso social e ideal, porém torna-se nas querelas religiosas o mais radicais cesaropapista do Oriente. Mas o caso que narramos, nos mostra a importância da assinatura papal em documento imperial para dar legitimidade diante dos cristãos, as intenções do Imperador Romano.
O que era um Capítulo?
Para a Igreja um capitulo era uma assembléia geral de religiosos que visava discutir problemas de interesse comum. ( dicionário Enciclopédico das Religiões).
Teodoro Asquida de Cesárea, bispo, sugeriu ao imperador que condenasse três nomes de autores antioqueno (Siria) tidos como inspiradores do nestorianismo; alegava que se o imperador o fizesse, essa medida, traria paz para os cristãos, que como vemos já eram considerados maioria absoluta do Império. Esses três nomes constituem-se no que os Historiadores da Igreja chamam de “Os Três Capítulos”. Eram eles: O capitulo (assembléia e resoluções) de Teodoro de Mopsuéstia (morto em 428); os escritos de Teodoreto de Ciro (morto em 458) contra São Cirilo e o Concilio de Éfeso; a carta do bispo Ibas de Edessa (morto em 435) ao bispo Mári de Arbashir em defesa de Teodoro de Mopsuéstia e contra os anatematismos de Cirilo (já estudado).
O imperador consentiu na sugestão e publicou um Edito que anatematizava os Três Capítulos” em 543. Ao invés da paz esperada houve acirramento das discussões. O imperador obrigou então os bispos orientais a assinar os documentos assim como o Patriarca Menos. E exigiu que o papa Virgilio assinasse o documento, e esse se recusou. Então o Imperador mandou buscá-lo de Roma para Constantinopla. Um ano após sua chegada, estudado o caso, Virgilio em 548 escreveu o Ludicatum, em que condenava os Três Capítulos desde que respeitadas às decisões do Concilio de Calcedônia ( como já vimos). O gesto do Papa foi tomado pelos ocidentais como uma ingerência do Império sobre o Papado, e para esclarecer, ou amainar os ânimos, o Papa e o Imperador convocam um Concilio Ecumênico ( Ecumênico, como já vimos, deriva de Oikós, casa, lar, habitação em grego, portanto no seu sentido inicial ou original, quer dizer, Ecumênico = Terra Habitada por Cristãos, no caso representado por seus bispos, reunidos em Constantinopla II) que nenhuma inovação praticou quanto às decisões tomadas anteriormente. Todavia em 551 Justiniano repetiu o anátema sobre os Três Capítulos, o que provocou a ruptura do Papa Virgilio com o Imperador. O papa Virgilio, fora de Roma, teve que procurar asilo ( pois foi perseguido) em igrejas de Constantinopla e Calcedônia. A respeito do Concilio, o Papa e o Imperador não concordavam, então o Imperador convocou outro Concilio, por sua própria iniciativa reunindo-o sobre a direção de Eustíqueo, novo patriarca de Bizâncio e renovou, em comum com ele, a condenação dos “Três Capítulos” em junho de 553.
Como não fui capaz de fazer uma síntese adequada da questão, que não esta clara para mim trago um resumo do pensamento de cada autor considerado anátema: Teodoro de Mopsuéstia; Teodoreto de Ciro e Ibas de Edessa.
Teodoro de Mopsuéstia (352-428) Teodoro foi ordenado presbítero em Antioquia e em 392 consagrado Bispo de Mopsuéstia na Cilícia, onde faleceu. Ele foi o maior exegeta das Sagradas escrituras da escola Antioquena. A Igreja Nestoriana o considerava o comentarista Bíblico por excelência. Depois de sua morte, como a questão de Nestório, que foi seu discípulo foi acusado de herético em cristologia, motivo pelo qual suas obras desaparecerem, algo se conhece hoje pelas Cartas de São Cirilo de Alexandria contra posições dele. O quinto Concilio (de Constantinopla II) de 553 o condenou. Ultimamente tem aparecido na Igreja Oriental (versões de sua Obra em siríaco, que comprovam (diz o comentarista) que sua cristologia pecava pelo uso de palavras imprecisas e dadas a dupla interpretação
Teodoreto de Ciro (393-466) Historiador Grego nasceu em Antioquia (Siria) e recebeu sua educação nos mosteiros (como de resto todos os outros, pois eram as únicas escolas) em 423 tornou-se (a contragosto; ingerência civil na Igreja) bispo de Ciro. Atacou em dois escritos a São Cirilo de Alexandria (Egito) em defesa de Nestório e as decisões do Concilio de Éfeso. Posteriormente abandonou Nestório e aderiu à heresia Eutiques, resultando na sua deposição em Éfeso (pelo concilio ilegítimo). Apelou para o Papa Leão I, e pode participar do Concilio de Calcedônia, mas foi finalmente Condenado pelo Concilio de Constantinopla II. Deixou três obras Históricas de valor para a compreensão dos debates de então: História Eclesiástica; História dos Monges de Ciro e Antioquia; e História das Heresias que descreve a Heresia de Eutiques (hereticarum fabularum compendium)
Ibas de Edessa (457) Cristão sírio, bispo de Edessa escreveu em 433 uma carta “cristológica”, conservada quase inteira, em grego, dirigida ao Bispo persa Maris que motivou a sua deposição em Éfeso. O concilio de Calcedônia o reconciliou em 451, mas em 553 foi condenado nos Três Capítulos (553). A tradução que teria feito da obra de Teodorico de Mopsuéstia a e a tradução de Aristóteles perderam-se, bem como seus hinos.
Com isso, chamo atenção, da importância documental, na História da Igreja e do Cristianismo, sem o que, perdemos enorme tempo discutindo sobre “interpretações” de escritos desconhecidos no original pelos cronistas. Como as Igrejas ditas de protesto, surgiram 1000 anos depois, ainda na boa vontade, por falta de documentação, erram ou mal interpretam fatos.