sábado, 14 de fevereiro de 2009

Heresias VI.





Heresias VI
O Monofisismo.
Dentre as correntes de pesadores cristãos que se opunham contra Nestório, como regra geral, houve excessos, um deles deu origem ao Monofisismo. O Monofisismo, também chamado de monofisitismo, é o oposto da tese de Nestório, e como a de Nestório foi condenada como herética. A nova tese, também encontrada em algumas igrejas separadas diz que: “em Jesus há uma só natureza e uma só pessoa: a divina”. O primeiro a defender essa tese foi Eutiques de Constantinopla. Ele reconhecia, em defesa da ortodoxia (da reta fé) contra Nestório, que Jesus tinha duas naturezas; a divina e a humana. Mas afirmava que a natureza divina absorveu a humana, divinizando-a, donde só se poderia falar em uma natureza em Jesus; a Divina. Esta tese tornou-se a heresia mais conhecida e mais popular na Igreja Oriental.
Eutiques foi condenado como herege pelo Sínodo de Constantinopla em 448 (Sínodo não Concilia). Todavia não cedeu e conseguiu o apoio da Corte.
O Patriarca Dióscoro de Alexandria, partidário de Eutiques, solicitou ao Imperador Teodósio II, convocou um novo Concilio Ecumênico para Éfeso, em 449 (o outro em Éfeso ocorrera em 431). Dióscoro tendo aberto o Concilio, negou a presidência ao representante do Papa (a Hierarquia entre as Igrejas e Episcopados ficara definida muitos anos, anteriormente) e não permitiu que fosse lida a carta doutrinal do Papa (Santo) Leão Magno que propunha a reta doutrina: as duas naturezas de Cristo não se misturam nem se confundem, mas cada qual exerce a sua natureza própria em comunhão com a outra”. Todavia esse Concílio, irregular, na Hierarquia, na democracia interna, proclamou a razão a Eutiques; depôs o Flaviano Patriarca de Constantinopla, e outros Bispos contrários a tese monofisista. Todavia imediatamente os Bispos de diversas regiões do mundo cristão começaram a repudiar as decisões desse “concilio” que rejeitou os prelados (representantes papais) e o repudiaram como ilegítimo, sem mesmo discutir suas decisões. O Papa São Leão Magno se referia a ele como o latrocínio de Éfeso; todos pediam um novo concilio, dizem os cronistas, que de fato foi convocado, agora pelo Imperador Marcião, que se casara com a Irmã (Imperatriz Pulquéria) de Teodósio II, já falecido. O Concilio foi então convocado em 451 para a cidade de Calcedônia, diante de Constantinopla e foi o mais concorrido, diz o cronista da antiguidade, como mais de 600 Bispos, e três legados papais. A Ecclesiae (assembléia) rejeitou o Concilio anterior, e proclamou a carta dogmática de São Leão Magno dirigida a Flaviano, que serviu para a base das definições, que definiria Jesus Cristo como uma só pessoa Divina (a Segunda da Santíssima Trindade), e duas naturezas. Havia, pois uma só pessoa em Jesus Cristo (um só Eu), que além de dispor da natureza divina desde toda a eternidade, assumiu a natureza humana no sei de Maria Virgem e viveu na terra agindo ora como Deus, ora como homem, mas sempre e somente com o seu Eu divino.
Todavia, com as definições do Concilio, o Imperador Marciano manda exilar Dióscoro e Eutiques, todavia aos poucos esses ocuparam sedes episcopais; inclusive em Jerusalém (temporariamente) No século sétimo, a coisa se agravou, pois os muçulmanos ocuparam a Palestina, a Siria, o Egito, impedindo a ação doutrinaria de Bizâncio.
Existem igrejas monofisistas na Armênia, Siria, Egito, Etiópia. No Egito os monofisistas tomaram o nome de coptas, nome que guarda as três consoantes da palavra grega Aigyptos (K, P, T) ou Kopta, e são os antigos egípcios. Os que guardaram a doutrina do Concilio de Calcedônia, se chamam melquitas ( de melek= imperador) embora professando a mesma fé que Roma e a Ecclesiae Universalis, aderiram à cisma de 1054, que os separou de Roma, todavia muitos voltaram à comunhão com Roma. Coptas também se reuniram a Roma em 1742. Na Siria os monofisistas são chamados Jacobinos, nome derivado de um de seus primeiros lideres, Jacó Baradai, que foi Bispo de Edessa em 541-578. Essa heresia foi a responsável pela cisma de Antioquia.
Existe importante texto Católico sobre as Igrejas Orientais ( documentos Pontifícios 151, Vozes, titulado: Decreto “Orientalium Ecclesiarium” sobre as relações das Igrejas Católicas e as Igrejas Separadas Orientais, sobre modo as monofisistas.
As igrejas Monofisistas (pré-calcedônias) ou não-Calcedonianas, como também são chamadas, rejeitam os três primeiros Concílios Ecumênicos, e estão hoje, na sua maioria de fieis, restritas ao Oriente Médio, embora estejam presentes em outras partes do Mundo como a Etiópia e a Índia. O que se discute hoje, é a validade da ordenação sob o ponto de vista da sucessão apostólica, em algumas, e noutras a doutrina monofisista é apenas nominal, estando prontas para reconciliação universal. Entre as não-calcedonianas estão também igrejas Nestoriana e algumas igrejas Nacionais, de origem monofisista.
Ver para aprofundamento, Dicionário Enciclopédico das Religiões, da Editora Vozes.
No próximo texto, na intenção esclarecedora, veremos o edito do imperador Zenão, 26 anos depois do Concilio, chamado Henotikón (Edito de União), com o qual o Imperador procurou em reta intenção a união, resultando, pela ambígua “verdade” em nova “cisma” com a deposição do Patriarca de Constantinopla Acácio monofisista. Essa ruptura que ficou conhecida como “cisma acaciano” durou 35 anos (484-519). Embora o zelo do Papa Felix III em preservar a reta doutrina, esta separação permitiu que o monofisismo se propagasse no Oriente. Com a morte de Zenão, imperador monofisista, assumiu Anastásio, também monofisista, tornado as determinações papais sobre a cátedra de Pedro, de algum modo, infrutíferas no Oriente naquele século.
Para aprofundamento ler: Bilmeyer-Tuchle História da Igreja;
Rogier-Aubert-Knowles. História da Igreja.