O Monaquismo II.
Como já vimos, o monaquismo é um estilo de vida cristã austera e afastada do mundo. A Igreja, e não se pode esconder, e quem quiser pesquisar, haverá de debruçar-se sobre essa verdade: O Monaquismo foi um fecundo foco de vida espiritual, de estudo da teologia e de cultura geral, e por influencia da Igreja em todo o mundo. Mesmo hoje quando o mundo mais uma vez convulsiona os Mosteiros, são como que resistências, que não se dobram, ou não deveriam se dobrar aos modismos do mundo.
Como vimos, o modelo monaquista, veio de comunidades pré cristãs, do budismo, do hinduísmo, de comunidades semitas e egípcias. Mas foi com o cristianismo, que essa modalidade de vida expandiu e influenciou gerações.
No Oriente Cristão, berço do monaquismo, essa modalidade de vida se expandiu nos desertos do Egito, da Palestina, da Siria, da Mesopotâmia. Concomitantemente surgiam os mosteiros femininos que tinham sua raiz especial na pratica de consagrar a virgindade ao Senhor mediante votos públicos ou privados de castidade como podemos conferir em primeira Coríntios 7,37s. Escritores dos séculos III e IV atestam essa pratica antiga no seio das comunidades cristãs. Testemunhos disso nos dão Tertuliano (220), São Cipriano (258), Metódio de Olimpio (311) e Santo Ambrosio (397). São Pacômio, já estudado no texto anterior, chegou a fundar dois mosteiros femininos. Em alguns casos, contam alguns autores, os mosteiros eram masculinos e femininos, separados, ou melhor, ligados pela Igreja, ou capela conventual. O Concilio de Agde (Gália) em 508 proibiu esse tipo de monastério, e o concilio de Nicéia II(782) proibiu a fundação de novos mosteiros nessa configuração. Os séculos mostraram à prudência cristã, que esse convívio estreito minava o fundamento da virgindade consagrada, muito provavelmente.
O Texto base nos diz que o grande legislador do monaquismo no Oriente Cristão, foi São Basílio Magno, que tendo visitado os monges da Siria, Palestina, Egito e Mesopotâmia, entregou-se a vida monacal na Ásia Menor. Nesse retiro escreveu duas regras cenobíticas. São Basílio procurou fundir o ideal dos antigos monges de entregarem-se a providência, e com ela dialogar, com o gênio da cultura helenista e romana. Hoje no Paraná Brasil existe a Ordem dos monges basilianos.
Todavia em certas regiões desenvolveu-se uma forma mista de monaquismo eremítica mesclado ao cenobitico (como já foi explicado no texto anterior), onde os monges viviam em colônias chamadas “lauras” sob o comando de um Abade, mas ocupando habitações distintas um dos outros.
A historia registra a presença de eremitas no Ocidente Cristão nas ilhas do Mediterrâneo, na Itália e na Gália. Os autores de modo geral atribuem ao surto de vida monacal no Ocidente Cristão ao livro de Santo Atanásio que divulgou a vida heróica de Santo Antão. Porém outros acham que o senso pratico e agitado dos ocidentais os fizeram optar pela vida cenobítica. Grandes mestres da espiritualidade como Santo Ambrósio (397); São Jerônimo (420); Santo Agostinho (430) e São Paulino de Nola (431) (anos de suas mortes) fizeram a apologética da vida monacal contra inimigos dessa modalidade de vida cristã, como Elvidio, Joviniano e Vigilâncio, por exemplo: Joviano fora rigoroso monge no Oriente Cristão, mas ao final do século IV veio a Roma, pregar uma novidade tão ao gosto dos modernos cristãos, ou seja, uma vez batizado o homem já não pode pecar, portanto não precisa de ascese (controle moral), mas podem satisfazer todos os seus apetites e impulsos naturais: levando a ele e seus discípulos a uma conduta licenciosa. Em Joviano renascia algo do gnosticismo do segundo século, porém o Papa São Cirilo o excomungou.
Quem queira aprofundar o entendimento sobre a vida monacal do Ocidente Cristão deve recorrer a São Martinho de Tours; Santo Agostinho (o africano), São Bento de Nurcia (O italiano) e Santo Columbano.
A atividade dos eremitas perdurou até a Idade Média no Ocidente e ate os nossos dias no Oriente nos diz Humberto Porto. Os mosteiros com o tempo tornaram-se escolas de saber para o povo (escolas monacais) e também colégios de preparação para o sacerdócio. O modelo Beneditino ganhou destaque. Nos séculos mosteiros femininos e masculinos são criados em grande numero em todas as partes. À par dos beneditinos, com regras mais severas e organização hierárquica surgiram através dos tempos os cluniacenses (910), os cônegos regulares agostinianos (1060); os cartuxos (1084), os cistercienses (1098), os premonstratenses (1120) e os gilbertinos em 1149. As cruzadas dariam origem às ordens de Cavalaria. Seguiram-se as ordens franciscanas mendicantes (1208), os dominicanos em (1215), os carmelitas (1210) e os ermitões agostinianos (1256). Mais recentes são as ordens dos capuchinhos, carmelitas descalços, trapistas e maurinos. Depois vieram as ordens de clérigos (padres) regulares com votos de monge. Os teatinos em 1524; os banabistas em 1530; os jesuítas em 1540; os passionistas em 1741 e os redentoristas em 1732. Com a revolução francesa os mosteiros foram destruídos na França e em suas colônias e reconstruídos após a Concordata. Também no México eles foram destruídos (1857) e novamente na França em 1903. A América do Sul propiciou um novo surto de mosteiros (monacais), mas também aqui foram perseguidos e expulsos ( Jesuitas).
Resta-nos dizer que sob a regra do Ora et labora ( ora e trabalha) os beneditinos aos poucos foram se firmando como co-responsáveis em grande parte pela conversão dos anglo-saxões e outros povos germânicos ( Inglaterra, Bélgica,Holanda, Norte da Alemanha... ensinado aos povos bárbaros que viviam em torno dos mosteiros os princípios da cultura cristã). Com as escolas “monasteriais” ensinavam os jovens e adolescentes as ciências e a formação moral cristã. Foram também eles os ”copistas” que salvaram da ruína a cultura clássica que passaram às nossas gerações vindouras. Pode-se também dizer que essa foi a grande obra cultural dos Monges, sem a qual o mundo que conhecemos não seria como é, teríamos perdido praticamente todo o conhecimento anterior ao século VI. A atividade intelectual dos mosteiros de São Bento era dita “ lecto divina”, a leitura diária e meditada do Santo Evangelho.
Resta ainda São Columbano (irlandês) que na Gália fundou Luxeuil mosteiro “penitencial” preferido dos francos.