domingo, 19 de abril de 2009

Pelagianismo e semipelagianismo, texto II.

Semipelagianismo. ( Texto II, continuação de heresias XI)
Com esse texto difícil estamos quase encerrando o capitulo da história antiga da Igreja que diz respeito às grandes heresias. Aconselho a quem se interessar, antes de qualquer juízo, consultar os textos de Santo Agostinho, disponíveis em varias coleções editadas antes dos anos 1950. Pois muita interpretação se fez e se faz sobre os mesmos, o que dificulta saber o que Santo Agostinho queria dizer com predestinação. Devemos nos lembrar, no entanto, que a Igreja o declara Santo, ou homem que viveu as virtudes em grau heróico, depois, é claro, de examinar seus escritos e declará-los sem erro doutrinário. Portanto, ao analisarmos os textos do Santo Mestre, haveremos de partir desse pressuposto, e não o da desconfiança.
Santo Agostinho em suma, declarava o seguinte: 1) todos aqueles que se salvam, salvam-se porque Deus quer; 2) Deus quer salvar homens de todas as categorias (reis, nobres, plebeus, iletrados, etc.); 3) Deus nos leva a querer que todos os homens se salvem.
Ao Sul da Gália (Marselha e Lerins) o abade João Cassiano de São Vitor, resistiu à tese da predestinação de Santo Agostinho, e procurou um caminho mais flexível. A interpretação de João Cassiano acusava a predestinação de Santo Agostinho de fatalismo, propondo que Deus salva apenas aqueles que possuem méritos para isso. Essa doutrina, do mérito, redundou em outro erro condenado pela Igreja, o Molinismo, assim chamada porque o Monge Luis de Molina, no século XVI a reavivou.
Mas foi em Marselha que o Semipelagianismo começou e findou. O erro teológico, ou como se diz a heresia dos Massilenses ( marselheses), consistia no seguinte: o initium fidei, ou o primeiro passo para a salvação do homem vem do homem só; a graça de Deus o levará adiante, todavia ousavam ainda mais... ; não haveria a necessidade do dom da perseverança final para conseguir a salvação eterna. Esse em síntese a doutrina que no século XVI foi chamada de Semipelagianismo (prestem atenção o fato ocorreu no século IV e V, e o nome e classificação da Heresia ocorreu no século XVI). Ao tempo o semipelagianismo era chamado apenas doutrina dos Massilienses ( Marselheses, ou monges de Marselha).
Do lado de Santo Agostinho, alguns leigos e seus seguidores, tentaram amenizar os escritos do Mestre, que na luta contra os Marselheses , desenvolveram doutrinas próprias, caso de Prospero de Aquitânea e Hilário. O mais célebre caso foi o do presbítero Lúcido, que tomando a defesa de Santo Agostinho, negou o livre arbítrio, e desenvolveu a predestinação a condenação, doutrina que não se confunde com a agostiniana e foi condenada pelos sínodos de Arles e Lião em 473.
O debate entre “ agostinianos”, ou que assim se diziam, e os massilienses, ou seguidores dos monges de Marselha, durou ainda um século, e foi derrubada por obra do Grande bispo de Arles Santo Cesário ( 543) que houvera sido monge de Lerins, mas afastou-se dos erros teológicos de seus irmãos de habito. Em junho de 529 reuniu o célebre sínodo de Orange, e se baseado em documentos vindos de Roma, condenou pelagianismo, e o massiliense (semipelagiansimo) e propôs o agostianismo, ou seja:
Afirmou a incapacidade natural do homem para realizar o bem sobrenatural ou conseguir a salvação eterna; a absoluta gratuidade da Graça (que por ninguém pode ser merecida); a necessidade da Graça para o inicio da salvação e para a perseverança final.
Santo Cesário pediu a Santa Sé à confirmação dos Cânones de Orange obtendo-a da parte do Papa Bonifacio II (530-32). Um dos manuscritos dos Cânones de Orange termina assim: “Eis por que todo aquele que, a respeito da graça e do livre arbítrio, acreditar diversamente daquilo que a autoridade papal e este sínodo estabeleceram, saiba que se coloca em contradição com a Sé Romana e como toda a igreja no mundo inteiro”.
Como vimos no texto anterior, Santo Agostinho combatendo as idéias de Pelágio, desenvolveu a doutrina da Graça e o primado da Graça e da ação de Deus na salvação do Homem. Isto lhe valeu na Igreja Universal o titulo de Doutor da Graça.
A teoria da “massa perditionis”: Após o pecado original, dos primeiros pais, todo o gênero humano vem a ser uma massa condenada. Ninguém pode por si escapar da condenação acarretada por Adão sobre o gênero Humano. (hoje massivamente se nega a existência histórica de Adão, pelo evolucionismo, não apenas para reescrever a história bíblica da origem do homem, mas para negar a culpa de um homem, posto que não existisse, e assim negar a transmissão dessa culpa aos demais homens. Não tendo culpa original o homem, ele é destinado à salvação pela sua inocência). Acontece, porém, que Deus, em sua insondável Misericórdia e prescindindo do mérito dos homens querem retirar alguns (muitos serão chamados e poucos os escolhidos) do estado de condenação, levando-os a gloria final; os restantes são deixados na perdição que lhes é devida por justiça. A esses escolhidos, Deus confere a graça eficaz e o dom da perseverança final para que se salvem realmente.
“Algum se opõe com um trecho de São Paulo em Timóteo: Deus quer que todos os homens se salvem”, mas igualmente podereis encontrar outro trecho que diz: “Muitos serão os chamados (dentre esses homens que Deus quer salvar), mas poucos serão os escolhidos”, de modo que não há contradição entre a doutrina da predestinação de Santo Agostinho, com a doutrina oficial da Igreja no século XXI.
“Que ninguém se glorie do que ele parece ter, como se não fosse um dom recebido; O homem não cumpre nenhum bem que Deus não lhe dê os meios de cumprir; O homem só tem de seu, mentira e pecado, se o homem tem uma parte de verdade e justiça, ela provém da fonte que devemos beber nesse árido deserto; Os homens executam sua vontade própria quando fazem o que Deus não quer; mas, quando cumprem a vontade de Deus, embora aja voluntariamente, isto se deve ao querer daquele que prepara e dispõe a vontade dos homens”
Sugiro que o leitor recorra aos escritos.