e disse-lhes:Porque sois tão timidos? Ainda não tendes fé? (Mc 4,40)
Constantino e a Paz de Milão. ( texto base Mater Ecclesiae)
Como dissemos no início, a História Antiga da Igreja estava dividida em dois blocos, se assim podemos dizer. O primeiro já descreveu, dos tempos iniciais, pela ótica do Império, ate Constantino (306-337).
Constantino era filho de Constancio Cloro, Imperador Romano, responsável pelo Império do Ocidente. Constantino subiu ao trono da Gália (hoje França) em 306. Seu cunhado Licinio ficou responsável pela parte Oriental do Império.
Em 312 Constantino teve que enfrentar Mexâncio, que dominava Roma. A sua religiosidade não era a da mitologia fantástica dos antigos romanos, mas cultuava algo como um princípio vago de monoteísmo, Apolo Sol. Antes da Batalha contra Mexâncio Constantino aproximou-se mais do cristianismo. Diz o historiador Eusébio de Cesárea em 337, que antes de entrar em guerra Constantino viu uma cruz luminosa com os dizeres “Toukoi Nika” (com esse sinal vencerás ha quem apresenta a expresão em latim). Na noite seguinte Jesus Cristo aparece a Constantino, da mesma maneira que aparece a São Paulo; disse que fizesse um estandarte (um lábaro) com aqueles dizeres. (esse episodio é contado de muitas formas, sem, no entanto, perder a linha geral). No entanto é certo que Constantino venceu Mexâncio junto à ponte Milvia em Roma em 28 de outubro de 312. Embora ainda não fosse batizado Constantino cada vez mais aceitava o cristianismo; prova é que em fevereiro de 313 promulgou o célebre Edito de Milão que reconhecia a religião cristã como lícita e dotada de plena liberdade, mas não ainda uma Religião de Estado, o que só aconteceria em 380. Em conseqüência, como já dissemos, os templos, os bens, as terras tomadas aos cristãos foram restituídas. Este gesto para os historiadores teve importância impar, pois desfazia pela primeira vez o vínculo do Império com o paganismo.
Constantino governava apenas o Ocidente do Império. No Oriente seu cunhado Licínio assumiu atitude oposta em relação ao Cristianismo. Possivelmente por causa da rivalidade política com Constantino, embora inicialmente tenha aceitado o edito de Milão,( que vinha da terra mãe do Imperio) Licinio a partir de 320 foi sufocando a vida dos cristãos dificultando-lhes ate a celebração do culto sagrado. Constantino, porém em guerra venceu e destronou Licínio, tornando-se o único Senhor do Império.
Assim, o Imperador ajudado pelos cristãos favoreceu ainda mais o cristianismo, embora, os historiadores achem que suas concepções religiosas não fossem rigorosamente a do cristianismo, estava ele convencido da superioridade da religião cristã. Em 324 envia ao Oriente um edito que aconselha seus súditos a que abandonem os templos do engano, e entrassem na Casa da Vida, e proibia as perseguições religiosas de quem quer que fosse.
Belas igrejas são construídas a partir daí, ( Latrão) a de São Pedro em Roma, mandado construir pelo próprio Constantino, em Belém, em Jerusalém, procurando homenagear os lugares históricos do início do Cristianismo, igrejas que tomaram o nome de basílicas do grego Basiliké que é adjetivo de basileu, (Imperador), e, portanto, significa Igreja Imperial, mais precisamente igreja do Império. Os templos pagãos foram caindo em ruínas diz um historiador, especialmente o de Venus cujo culto era imoral; o matrimonio e a família recebeu a proteção do Estado segundo os princípios da moral cristã. O domingo, dia do Sol para os Pagãos passou a celebrar a Ressurreição de Cristo. Embora não se possa afirmar que Constantino tenha sido batizado no final de sua vida, acredita-se fosse cristão.
Muito importante também foi à transferência da capital do Império de Roma para Bizâncio, na Ásia Menor, cidade geograficamente e estrategicamente mais central ao território Imperial, que passou a chamar-se Constantinopla (Hoje Istambul na Turquia). Outra razão das mudanças era a instabilidade civil de Roma, acuada pelas odes de guerreiros bárbaros ( diz o texto base, informação que precisa ser melhor estudada),e como conseqüência Roma foi sendo abandonada pelo poder imperial, e na mesma medida cada vez se tornava mais importante sob o ponto de vista do cristianismo. O Império (burocrata)se retirava e o cristianismo crescia livremente. Em Roma haviam morrido Paulo e Pedro, e lá habitava o sucessor de São Pedro, o papa, a quem cada vez mais as populações pediam conselho nas questões disciplinares e religiosas. Constantino governou ate 337, e o cisma religioso entre Igreja Oriental e Ocidental, só ocorreria em 1054. Pode-se hoje entender os motivos, mas são motivos que se acumulam pelos próximo 700 e poucos anos, bem mais que toda a nossa história, no Brasil.
Morto Constantino depois de um longo reinado em comparação aos seus antecessores (31 anos) morre, o imperador da construção das basílicas, chamado pelos cristãos do Ocidente Santo juntamente com sua mãe Helena ( essa canonizada), e Magno pelos cristãos do Oriente, Constantino reconhecendo o Cristianismo admitia a vantagem política e o êxito político naqueles tempos. Não é diferente hoje. No entanto o conjunto universal de sua obra Cristã nos impede de chamá-lo de um beato hipócrita. Em Danil Rops (L`Eclesie dês Apôtres et desMaryrs, Paris 1948) poderemos ler afirmações como essas: “ Dedico pleno respeito à regular e legítima Igreja Católica” ou mais adiante: “Ninguém pode negar que sou um fiel servidor de Deus”. As frases são vagas, mas assim como não se pode negar a importância da destruição do Templo, para a confirmação do cristianismo: o mesmo se deve dizer de Constantino. Os seus erros e seus acertos facilitaram que a Palavra chegasse ate nós e preservada.
Ele acreditava ser portador de uma missão especial para harmonizar o Estado e a Igreja (entenda-se aqui sempre a Igreja enquanto corpo místico de Cristo, que na pratica são irreconciliáveis (a conversão do mundo esta muito além de nosso tempo) Assim ele se dizia Episkopos (vigilante) de fora enquanto falou aos Bispos em Concilio Regional: Sois Epikopoi, vigilantes de dentro, e eu, porém foi constituído vigilante dos que estão fora da Igreja. Pode-se antever o interesse político, o que foi interessante para o crescimento do cristianismo instrumentalizado, todavia isso, ele achava, como gerente do império, que lhe tornava habilitado a mandar nas questões políticas da Igreja, e por meio dela na dos cristãos. A ingerência de Constantino nos assuntos da Igreja, ao contrário do que se possa supor, não encontrou apoio no Ocidente, (Roma) mas sim entre os Bispos do Oriente. Repentinamente libertada no Oriente ( os Bispos Orientais), os Bispos se entusiasmaram de tal modo, com a possibilidade de não terem que recorrer à longínqua Roma, e ter apoio e poder ao alcance em Constantinopla (na Ásia Menor), que não só passaram a obedecer ao Imperador como passaram a pedir sua intervenção em questões religiosas, como por exemplo, sobre os arianos, e donatistas ( é umainterpretação nossa). Esse fato, em tradição, e na seqüência se tornaria nocivos a Igreja nos séculos quarto e quinto gerando o que se chamou Cesaropapismo do Oriente. Todavia o mesmo não ocorreu no Ocidente, pois as populações abandonadas do Ocidente não mereciam mais as atenções dos Imperadores Bizantinos (Bizâncio a Cidade asiatica que se chamou Constantinopla) sobre modo diante das incursões bárbaras sofridas por Roma; de modo que a Igreja latina pode seguir livremente (não sem lutas com os bárbaros) o seu curso doutrinal e expansão e implementação. Todavia deve-se fazer notar ainda que a interferência dos Césares (Tzares no Oriente) não deturpou a estrutura e a doutrina do Cristianismo, as mensagens do Evangelho foram vividas em constante combate e firmeza pelo Povo Cristão de modo a entregar as gerações subseqüentes a Palavra vivida, não porém a Biblia cuja custodia ficou com a Igreja. Note-se sempre, que a imensa massa das populações era analfabeta, e que não andavam com a bíblia na Mão(a imprensa não fora ainda inventada). Somente séculos depois se tentará uma massificação da alfabetização do Povo, justamente nas escolas Catedralícias início do que entendemos por escola formal nos dias de hoje. O fato de terem cooperado entre si o Estado e a Igreja não é um mal em si (não os tire do mundo, mas os livres do Mal). Assim com exceção de um maniqueísmo (dualismo, nós somos o bem e eles são o mal) sócio político, do interesse do Império para atingir seus fins, como já o fizera aos tempos pagãos, nada, por outro lado, impede a Igreja de que se um governante se professar cristão, que Ela, possa então contar com ele como um filho a quem também compete proclamar o Evangelho.
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