É preciso não subestimar.
Muitos de nós, por vezes duvidamos da importância dos mosteiros, e do clero, para a preservação das escrituras cristãs, de escritos eclesiológicos, comentários e documentos, durante o período das invasões bárbaras. Isso de deve àquela visão errônea de que Roma estava sendo atacada, e que Jerusalém, Alexandria, Antioquia, haveriam de preservar o cristianismo. Mas não foi assim.
Diz o cronista: Podemos sentir o estado de ânimo temeroso dos cristãos através das palavras de São Jerônimo (morto em 420):
“Meu coração estremece pensando nos desastres do nosso tempo. Eis mais de vinte anos que entre Constantinopla e os Alpes Julianos o sangue romano é derramado diariamente... Quantas damas, quantas virgens de Deus (acredito que falava das consagradas), quantos corpos nobres e delicados não foram joguetes nas mãos dessas feras selvagens? Os Bispos são levados ao cativeiro, os sacerdotes assassinatos juntamente com clérigos de diversas Ordens; as igrejas são devastadas, os cavalos amarrados junto dos altares de Cristo como em estrebaria; os despojos dos mártires são extraídos da terra (creio que se refira a túmulos). Em toda a parte a luto, gemidos e a sombra de morte. O mundo romano desmorona,... Tivesse eu cem línguas, cem bocas, uma voz de Bronze, nunca, nunca eu poderia contar tantas desgraças” (epistolas IX, 16).
Em 410 Alarico penetrou e saqueou Roma, São Jerônimo da o seguinte testemunho em 411:
“Hoje quis aplicar-me ao estudo de Ezequiel; mas, momento preciso em que comecei a ditar (veja que Jerônimo o sábio tradutor da Bíblia, ditava a escribas), senti tal perturbação pensando na catástrofe do Ocidente (referia-se a Roma) que como diz o provérbio me faltaram às palavras. Por longo tempo fiquei em silêncio bem consciente que estamos na época das lagrimas.
Neste mesmo ano, depois que explique três livros de Ezequiel, uma subitânea invasão de bárbaros... desencadeou-se como uma torrente sobre o Egito, a Palestina,a Fenícia( hoje Líbano) a Siria, tudo arrastando consigo” (Epistolas 126, 5)
Escreveu ainda São Jerônimo:
“Quem teria acreditado que essa Roma, construída sobre vitórias obtidas em todo o universo, viesse um dia a desmoronar? Quem teria acreditado que, para os seus povos, Roma viria a ser mãe e sepulcro?... Que todas as regiões do Oriente, do Egito e da África se cobriam de escravos (homens e mulheres) vindos de Roma, outrora senhora do universo?” (Prefacio do Livro III, XXV).
Não foi mole.
Os visigodos foram os primeiros povos germânicos a abraçar o cristianismo. No século III alguns de seus indivíduos tornaram-se católicos por obra de prisioneiros, escravos e ou missionários. Todavia o grande arauto entre eles foi Ufilas (311-383) ariano; ordenado Bispo dos Godos por Eusébio Bispo ariano de Nicomédia. Os visigodos foram o foco de conversão do mundo Oriental, de modo que o s Germanos do Oriente se tornaram cristãos sob o signo da heresia ariana.
Todavia os Francos, também germânicos, na segunda metade de quinto século, passaram do Reno Para a Gália. Clodoveu ou Clovis (481-511) casado com uma cristã resolveu batizar seus dois filhos. Depois de uma vitória contra os alamanos (alamanos, não alemães, os primeiros são origem dos segundos) Clovis recebe o Batismo das mãos de São Remígio de Rheins em 496, e como rei fez batizar seus três mil homens. Assim Clovis se fez católico e não ariano, e apresentou-se as autoridades religiosas como protetor da ortodoxia (não confundir como igrejas ortodoxas separadas coisa que ocorrerá séculos adiante). Essa declaração valeu para a França, terra dos francos (germânicos) o titulo de filha primogênita da Igreja. Os sucessores de Clovis tornaram-se politicamente intrusos da igreja, forçando um breve “Cesaropapismo”, ingerência do poder civil, no poder religioso, agora Ocidental, coisa vivenciada ate então, pela Igreja no Oriente.
Ostrogodos e Vândalos extinguiram-se sob a heresia ariana, já os Francos, Suevos, Visigodos, burgúndios tornaram-se católicos. Toda a preservação da cultura cristã se preservou e irradiou a partir dos Mosteiros, que eram focos de espiritualidade, cultura e missão evangelizadora.
As invasões das tribos germânicas atrasaram em certa medida a vivência do Cristianismo, ainda no século sexto, São Gregório Magno, Papa, referia-se ao paganismo existente na Córsega, Sardenha e regiões distantes. Calcula-se (não sei como) que por volta dos anos 600 era de 6ª 7 milhões de cristãos no Ocidente, numa população total de 10 milhões de almas. Acontece que os germânicos se convertiam segundo os seu lideres, o que por vezes significava uma conversão sem catequese, vivendo um cristianismo cheio de superstições (astrologias e magia).
No próximo texto, para fixar e não fazer confusão dará uma rápida pincelada no desenvolvimento do cristianismo de Estado (380) com Teodósio e seus filhos Arcádio (395-408) no Oriente e Honório (395-423) no Ocidente. Pois é preciso perceber que ao mesmo tempo em que o Império tentava implantar o cristianismo, em seus povos, as “hordas” pagãs invadiam trazendo múltiplas desordens, e convertiam-se para o arianismo. Assim será importante olharmos novamente para o fenômeno do decreto de Teodósio, contra os arianos, que negavam a divindade de Cristo, heresia ate os nossos dias praticados por grupos cristãos extra Igreja. Tanto a iniciativa de Constantino em 311, como a de Teodósio em 380, eram atitudes de combate à idolatria e ao politeísmo (todavia a idolatria nada tem a ver com a proibição de imagens, era o combate aos deuses pagãos, chamados ídolos, a iconografia e os iconoclastas, que combatiam as imagens cristãs, numa errônea interpretação do texto bíblico do Velho testamento, portanto das tradições judaicas, é movimento herético bem posterior, condenado pela Igreja. Quando fizermos essa revisão dos decretos que facilitara a expansão do cristianismo e sua unidade, entraremos, se Deus quiser prudentemente na descrição dos principais desvios da fé sofridos nos séculos IV e V (quarto e quinto). Veremos também o surgimento dos monges copistas que copiavam comentavam e traduziam a literatura cristã e Clássica (Greco Romana) principalmente Aristóteles e Platão numa atividade que se estenderá até o século décimo. O pensamento de Alexandria estava impregnado das praticas mágicas pagãs.